quinta-feira, 29 de setembro de 2011

SEMINÁRIO DO RÁDIO - CENARIUM RUAL

 


Jurandir Antonio Francisco (Jura)
Jornalista há 20 anos, formado pela Universidade Federal de Goiás - UFG, trabalhou em diversos veículos de comunicação de Mato Grosso. Rádio Vila Real AM, Rádio Gazeta AM, Rádio Atividade FM, Sistema 2000 de Rádio/MT Ponta a Ponta e nas Rádios Executiva FM e Rádio Universitária AM, em Goiânia. Foi assessor de imprensa das Secretarias Municipal e Estadual de Saúde, Sub-Secretário de Comunicação Social do Governo de Mato Grosso (1995 a março 1996), Secretário de Estado de Cultura de Mato Grosso (1999 a 2002). Agora exerce a direção de jornalismo do Escritório do Rádio/site MT Via Rádio. É Coordenador de produção e programação da MUSA FM.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Brasil para todos os gostos

Um passeio gastronômico entre cores, sabores e aromas de dar água na boca



Por Ariani Malouf 

Em cada canto um novo prazer nas descobertas, lembrando as experiências antigas da cozinha da vovó e da titia, recordações de sabores da nossa infância e juventude vêm à tona com muita saudade.


Colocamos toda essa vivência num filtro, o antigo e o novo, e extraímos surpreendentes receitas que sempre encantam os paladares. Brasil generoso, cheio de cores, rios e mares, uma imensidão de riquezas naturais  e um potencial gastronômico que floresce a cada dia. 

Vamos iniciar pelo nosso canto do Brasil - o Centro-Oeste. Aqui uma imensidão do cerrado, com rios e cachoeiras onde as piraputangas em água baixa brincam nas correntezas até chegar a nossa mesa. Este peixe de carne rosada pode ser deliciosamente assado na brasa com recheio de cebola, receita do querido amigo Cacalo, que muito nos orgulha com suas deliciosas preparações e com a alegria típica do cuiabano.  Terra do horizonte, terra sem fim, tão generosa que, além de pacus e pintados, colhemos tantos grãos quanto algodão e assim fortalece o Mato Grosso, celeiro do Brasil.

E quem por Cuiabá passar tem que experimentar o famoso “cha com bolo” da Dona Eulália, onde as fornadas começam ao raiar do dia e exalam o delicioso cheiro de bolo de queijo e bolo de arroz.  Só de pensar na cena me deu água na boca.
O meu desejo nessas próximas linhas é elevar a mente e viajar pelas nossas regiões tentando trazer um pouco dos perfumes, dos lugares e das pessoas que marcam de alguma forma a gastronomia. 

E vem aí o pequi do Goiás – esse fruto que não acaba e que rende preparações que vão do clássico arroz com pequi de Pirenópolis  até um cupim em baixa temperatura  com creme de pequi, criatividade do chef Fernando Mack, do Mahalo. 

Na terra da fala cantada, o raio de sol que silencia também desperta curiosidade para os sabores tão marcantes do camarão seco, jenipapo, jerimum caboclo e jacarezinho, dendê, fruta-pão, tapioca... Saindo do Centro para a brisa do mar. O Nordeste - oceano verde, sol, mangue, pernas-de-pau, caranguejo na lama, siri batendo martelo, toque-toque. 

Imperdível é sentar-se na varanda do Oficina do Sabor, em Olinda, do chef Cesar Santos, e se deliciar da carne -de-sol caseira com manteiga de garrafa. E pra refrescar, tomar a tão famosa caipirinha de pitanga ou de umbu cajá.
Em Alagoas, gastar um tempinho no Massaguêra,  de tudo se come  ali, bolinho de goma, sururu de capote e camarão na cerveja, sequinho e crocante.
E viajando ao Sudeste logo penso em cafezais, canaviais e na terra roxa que tanto atraiu bandeirantes e tropeiros.  Por toda parte: pão com manteiga no café com leite. Tão simples e tão requisitado. 

Em Belo Horizonte, Minas Gerais, o xapuri da Dona Nelsa, com seus 75 anos e ainda à frente de seus tachos de cobre fervilhando no fogão à lenha com doce de leite, goiaba, com queijo minas. Hummm, é bom demais.
Subindo a serra que detém as ondas do mar numa estrada tão rústica e tortuosa, chegamos a Visconde de Mauá e é no Gosto com Gosto da minha companheira de panelas, a Chef Monica Rangel, que você pode tomar uma das 630 marcas de cachaça e aperitivar as linguiças fresquíssimas,  produzidas por ela mesma.  Se der sorte de estar lá na época do pinhão vai saborear receitas criativas preparadas pelos cozinheiros da região.

E o que dizer de São Paulo? Dispensa comentários!  De tudo se come e se bebe nesta cidade tão cosmopolita.  Nos butecos da Vila Madalena, as tradicionais casas italianas, os restaurantes estrelados e seus grandes Chefs como Alex Atala e quantos outros podem nos surpreender, dos mais clássicos aos mais badalados. E ainda as padarias que reúnem pessoas descoladas, a geração saúde, tão falada hoje, os cafés com bossa.
E de geração saúde quem entende mesmo é o Rio de Janeiro. Tomar um suco no Polis ou comer um açaí no Bibi é programa pra quem pensa em ficar de bem com a corpo e com a vida, é claro.

E só para fechar com o Espírito Santo, pois não poderia deixar de falar da mais tradicional moqueca, a do Geraldo, em Vitória. É de derreter qualquer coração.
Rumo ao grande verde brasileiro, o Norte, temos o sabor indígena inusitado, barcos pousados nas sombras de copas das arvores dos alagados. Suas folhas e raízes que além de mil e uma curas enchem de sabor tudo o que vai à mesa. 

Quem vai ao Norte do Brasil que se deleite com o açaí, cupuaçu, bacuris, jambo e tucunaré. Noites estreladas que refletem na imensidão de águas e trazem ao Mercado Ver-o-Peso as riquezas dessa terra. 

Lá em Casa, o restaurante do saudoso Paulo Martins, em Belém, que muito contribuiu para difundir os produtos de sua região, vale e muito comer o filhote com tucupi e se aventurar nos temperos que despertam sensações únicas. O jambo é um exemplo.

É, estou falando do Sul do Brasil, pátria distante nas falas e nos sabores.  Aí se produz o charque, sangue estancado pelo sal e dessa terra tiramos o pêssego e a delicada pele das maçãs coradas. E para terminar esse delicioso passeio vamos ao lenço vermelho, de onde o suco da fruta da parreira mata a sede e a brasa do fogo de chão não só alimenta o corpo, mas também a alma. 

E que essa viagem que poderia render um livro e foi escrita em poucas linhas seja apenas o começo da sua própria aventura. E como se não bastasse, à beira mar as ostras que escondem seus segredos nas rochas salgadas. E na Serra Gaúcha muito chocolate, frio ou quente, os cafés coloniais são verdadeiros banquetes onde o rei e a rainha somos nós. 
Um abraço carinhoso!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Ponto sem rasura


Ponto de apoio. Ponto de partida. Ponto de chegada. Ponto de interrogação.  Ponto da humanidade em simetria. Ponto da pátria soletrada pela democracia. Ponto da família em harmonia. Ponto da felicidade no dia a dia. Ponto da vida latente a cada alvorada. Ponto da ética pela moral ilibada. Ponto da infância abandonada em mais de uma ocorrência mais do que policial. Ponto da juventude coadjuvante além de uma escola voltada para o saber fundamental. Ponto do paciente sem leito em hospital.
  
Ponto em linha reta. Ponto em linha pontilhada. Ponto em plano vertical. Ponto em plano horizontal. Ponto em planilha digital. Ponto em parágrafo constitucional. Ponto numérico. Ponto alfabético. Ponto gramatical. Ponto histórico. Ponto geográfico. Ponto artístico. Ponto cultural. Ponto da pedra filosofal. Ponto procurado. Ponto encontrado. Ponto perdido. Ponto sem nó. Ponto cruzado. Ponto distante. Ponto pacificador. Ponto do amor.
Ponteiros pontuados de geração em geração. Ponteiros pontuados pela luz da razão. Ponteiros pontuados pelas marcas de expressão. Ponteiros pontuados pela translação. Ponteiros pontuados pela rotação. Ponteiros pontuados por horas continuadas. Ponteiros pontuados por minutos decisivos. Ponteiros pontuados por segundos derradeiros. Ponteiros pontuados em tempos verbais. Ponteiros pontuados por viagens espaciais. Ponteiros pontuados de conquista em conquistas científica. Ponteiros pontuados de avanço em avanço tecnológico.

Ser biológico na areia da ampulheta universal. Ser biológico na placenta do planeta maternal. Ser biológico criado à imagem e semelhança do Criador. Ser biológico na proveta de um experimento inovador. Ser biológico na cadência orgânica com mais de um condutor. Ser biológico na condição de interlocutor. Ser biológico programado para nascer, integrar e prosperar. Ser biológico destinado para fortalecer e para blindar. Ser biológico formado para embelezar e para recriar.
Quantas horas despercebidas? Quantos minutos desencontrados? Quantos segundos silenciados? Quantos prantos contidos? Quantos caminhos desviados? Quantas guerras urbanas declaradas? Quantas vidas humanas mutiladas? Quantas cidades nas mesmas garras repaginadas pela corrupção em nada pontual? Quantos votos perdidos de pleito em pleito eleitoral? Quantos córregos condenados e sem vazão? Quantos rios afluentes elencados pelo crescimento em virtual aceleração? Quantos ministérios mantidos com os impostos dos contribuintes arrecadados pelo mesmo leão? Quantos pedintes de pão? Quantos miseráveis de pé no chão? Quantas estrelas cadentes no lábaro patriótico da nação?

Tempo do tecido social. Espaço da tecelagem política em ritmo institucional. Dedal no dedo indicador. Linha na agulha de sucessor em sucessor. Mais de um alfinete. A mesma tesoura com efeito de estilete. Corte e costura. Código de postura. Ponto sem rasura.

Airton Reis é poeta em Cuiabá (MT)